O homem canta
a tristeza esconde
o futuro inventa
o passado o consome
cervejará toda sexta
aos sábados outra vez
morrerá aos domingos
de tédio talvez
cometerá injúria
condenará sua mulher
a viver consigo
na esperança da fé
será bajulado
com a viola na mão
e contará os centavos
que sobra do quinhão
vai incendiar seu cigarro
com pose imponente
e depois de alguns anos
cairão os seus dentes
será escultura
um busto em bronze
na praça jazida
no lugarejo mais longe
falará tantas linguas
morrerá de fome
vai ganhar no bicho
a sentença de morte
nascerá para a elite
numa breve passagem
foi pobre uma vida
que nao lhe deixa saudade
a viola esquecida
no canto do quarto
só era bem-vinda
nos dias amargos
vestiu sua mulher
de toda avareza
se acostumou no perfume
da vida duqueza
numa tarde cinzenta
de um breve domingo
viu as roupas jogadas
e duas taças de vinho
a vista escura
a faca na mão
é sangue e perfume
são dois corpos no chão
se afastou inocente
tropeçou no violão
espalhou querozene
derrubou o lampião
e lembrou sorrindo
das serestas que fez
e num triste domingo
morreu outra vez
Diogo Caribé
Quando ouvi falar pela primeira vez sobre "A Teoria do Caos" e seu famoso efeito borboleta, fiquei logo fascinado pela possibilidade poética com que a física consegue prever uma ordem em acontecimentos, à primeira vista, aleatórios. O bater de asas de uma borboleta que poderia desencadear um tufão do outro lado do mundo foi a maneira simplória e enredística que a física usou para explicar tal efeito, enchendo assim nossa caxola repleta de imaginações infantis secretas - facilmente cortejada e manipulada pela industria cinematográfica hollywoodiana.
A dinâmica infinita a que submetem as resultantes no cálculo das variáveis é uma dança com troca de pares. Ou seja, um resultado passa a ser dado numérico de outro, e assim, entrelaçados, dançam ao bailado imprevisível fitado por olhares finitos.
Poucos param para pensar em coisas do tipo. Mas algo que não deve ter durado pouco mais de segundos, tal como um estalo, aconteceu na vida de um cidadão na conceituada universidade de Harvard nos EUA, e tal acontecimento interferiu na vida de milhões de outras pessoas com a criação de uma rede social chamada Facebook. Outro homem que
mergulhava tranquilamente nas águas do pacífico foi pescado por um hidrocóptero que colhetava água do mar para apagar um incêndio numa floresta causada por uma guimba de cigarro que um infeliz jogou por ali. Foram semanas para desvendarem o mistério do corpo com roupa de mergulhador tostado no meio da selva (Mas isso é só outro exemplo).
Não quero aqui escrever pequenas lições que aprendi com a vida de que "o que você faz pode interferir em tudo à sua volta". Porém quero falar de um fato marcante neste início de 2011: a crise no oriente médio gerada pela luta contra as ditaduras em vários países daquela região. A revolta popular que vimos no Egito e a renúncia do presidente Hosni Mubarak foi uma vitória popular que encheu nossos olhos ocidentais de orgulho e nossos corações preguiçosos de inveja. O povo foi pra rua de peito aberto, e mesmo machucado, ouviu-se o grito de liberdade engasgado há décadas pelas mordaças da intolerância do governo.
Não obstante, influênciados pelo vizinho de "carro novo", viu-se em vários países "daquela mesma rua", o mesmo tipo de movimentos e rebelião contra governos absolutistas. Uma ação e reação em massa limítrofe, que só foi possível por meio de uma rede social criada por um carinha lá de Harvard, resultando na revolta e, de contra-partida, uma represália que culminou numa terrível e sanguinária batalha civíl entre rebeldes e simpatizantes do governo Líbio.
Um enorme tufão de sangue e tiros de metralhadora, rodopiando selvagem por cima das cabeças de um povo que grita e anseia por liberdade, mesmo que pagando com a própria vida, desencadeado por uma borboleta: Um feirante Tunísio ateou fogo em si mesmo, cerca de um mês atrás, em revolta contra os impostos cobrados pelo governo, inspirando outros dois mártires que foram movidos pela mesma raiva e influenciados pela pequena, porém inflamada brisa do bater de asas daquela borboleta. Entrelaçando os passos; trocando os pares; modificando as variáveis, que tiram pra dançar uma jovem egípicia que postou no Facebook que iria à praça, depois do trabalho, e atearia fogo ao corpo se nada fosse feito para mudar aquele estado de corrupção, pobreza e falta de respeito com que o governo tratava a população egípcia. Outros três garotos juntam-se à jovem com cartazes de protesto nas mãos e gritam o mais alto que podem. E são ouvidos. São ouvidos não só naquela praça, não só naquele país. São ouvidos em todo o mundo. E suas vozes transformam para sempre nossa história.

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