Simplicidade

"Sintaxe à vontade"

23:20

Todos Os meus Olhares Procuram Amores Voadores

Sentimento simplificado por Caribé |

Se a gente já se olhou com todos os olhares
E já se provou no imaginário da língua
Se já esculpimos o corpo do outro na memória
Embolamos nossos corações desordenados,
E acariciamos no vento o rosto feito do pensamento,
Se nos cantamos nas músicas mais melosas,
E confundimos palavras já prontas,
Se esquecemos de dormir por prestar atenção
Nas cenas criadas no escuro entre a retina e a pálpebra,
E de mãos dadas passeamos em sonhos,
E a voz do outro acaricia o ouvido
Antes mesmo dos olhos pensarem em abrir,
E antes do primeiro pensamento.
Por que, se ao invéz de sentirmos falta
Sentimos a presença assombrosa e delicada,
De um amor que nem sequer sabe que existe?
Me diz, então, por que não?

22:25

Melhor Sorriso

Sentimento simplificado por Caribé |

sentimento, algo puro, como é forte e sutil...
a arte de se conhecer e se entender
para perceber o que se passa lá dentro


me via triste,
não me encontrava, nada me satisfazia
e não tinha a coragem de lutar pela fé, pela felicidade


faltava atitude
confiança e amor próprio
resgatar o meu melhor sorriso


cadê a alegria, cadê a fantasia, só há melancolia
não me vejo mais em você
preciso saber, agora, quem sou eu...

(Texto escrito por Camila Almeida)

19:10

Xeque-mate

Sentimento simplificado por Caribé |

Estar desempregado é foda, nada pra fazer em casa,
Fui pra rua tentar achar algo produtivo
E tava eu jogando xadrez.
Ô jogo desgraçado esse tal de xadrez, não ganhei uma.
E o pior, numas 3 eu tava com o jogo na mão, era só escolher a jogada certa e xeque-mate.
Mas eu sempre queria fazer umas armadilhas pra comer a torre,
outras pra levar o cavalo e o bispo de uma só vez,
e o coitado do meu rei desprotegido foi pro saco.
As vezes eu fazia uma jogadinha besta só pra ter o prazer de falar: XEQUE!
Em seguida meu adversário dizia: XEQUE BUNDA!
e me comia um peão, que me fazia uma falta umas três jogada ali pra frente.
Eu acho que pessoas ansiosas como eu não devem jogar xadrez.
Isso é jogo pra gente que pensa antes de fazer,
e não do tipo: Droga, fiz merda de novo!
Eu sou do tipo que as vezes tem um compromisso, mas deixo a preguiça ir vencendo.
Quando vejo que to atrasado digo:
Droga, to atrasado, acho que não vou não por que não quero ouvir conversa fiada.
Certa vez um amigo me disse:
Amigo, para de beber (a garrafa ainda tinha mais da metade) amanhã você conversa com ela,
com mais calma, dê um tempo a ela.
Zerei a garrafa, briguei com a menina, briguei com meu amigo, briguei com o cadeado
que não abria, briguei com a minha cachorra e dormi no quintal
por que desisti de abri a porta da cozinha pra entrar em casa.
Minha mãe diz num dia: Filho, não esquece!
E no outro: Filho, não esquece de novo por favor!!!
E no seguinte: Deixa. não precisa mais, pedi pro vizinho.
E eu ainda fico bravo: Porra, falei que eu ía!
Na verdade eu acho que as coisas deveriam ser no meu tempo.
O trabalho tinha que ser na hora que eu quisesse ir,
E a menina chegar em mim e dizer o que ta rolando de errado
e não se afastar e deixar que eu advinhe as coisas.
Acho que minhas jogadas no Xadrez tinham que sair mais como o planejado,
mas eu sempre esqueço que o cavalo anda em L
e sempre coloco a rainha ali na região do coice.
Engraçado o Xadrez né? a peãozada é a que mais rala
mas são os primeiros a se darem mal, raramente um consegue prosseguir e
se tornar alguma coisa melhor.
O bispo come todo mundo e adora fazer troca com o cavalo.
A rainha domina tudo, da as ordens, é a mais forte,
Mas no final é o rei, a peça mais preguiçosa, mais medrosa, 

que não faz nada o jogo inteiro a não ser se esconder,
é que é a peça mais importante do jogo.
Acho que é por eu pensar que ta tudo errado,
e que as coisas não devem ser assim, 

é que da tudo errado, só que dão errado pra mim, né.
E desse jeito eu sei no que vai dar.
Vou perder minha rainha,
Ser expulso da torre,
Meu cavalo vai embora com o bispo,

E eu querendo levar vida de Rei
vou acabar sendo peão o resto da vida.
XEQUE-MATE!

03:14

Roupa Velha

Sentimento simplificado por Caribé |




A água borbulhava na leiteira,
E o alumímio refletia a tristeza do olhar,
Mais um café de outro dia,
Que começava já com pressa de acabar.

Nos varais as roupas velhas,
Com recordações que se foram de tanto se enxaguar,
E de baixo da janela as tantas rezas,
Que não tiveram força para no céu chegar.

No céu o sol vem tímido, com preguiça de clarear,
E lá de longe a chuva ja vem vindo, já se cai uns pingos, mas não a ponto de molhar.
No quintal a grama alta com uma única roseira já sem flor para cheirar,
E um pé de goiabeira cheio por que os meninos já se cansaram de roubar.

Na leiteira a água evapora, o café demora, a grama cresce,
A roseira apodrece, a goiabeira envelhece, e a mulher chora.
E chora sem saber mesmo por que, se é pelo abandono, ou se é pelo outono,
que vem desfolhando a alma e teima por tempos ir embora.

Na varanda, esquecidos, os beijos que se davam escondidos,
O homem era do tipo que já não se nasce mais em nenhum lugar,
Fazia de tuas palavras poesias e escrevia prosas sem rimas,
E quando virava a esquina já pensava no outro dia, na hora de chegar.

E o barulho que se faz lá fora incomoda o silêncio dos teus passos,
Teus pés descalços descançam já do salto, e tua boca do baton,
Tua cor descança em cinza e teu cabelo descança em branco,
O teu rosto descança em rugas e teus olhos em pranto.

E quando a noite já vem pálida, triste e sem graça,
Ela pega a sua última reza caída na janela,
Se benze e se deita em seu leito e dorme sem sonhar,
Antes sonhava sem dormir, agora dorme sem querer acordar.

Mas acorda.

E na leiteira a água evapora, o café demora, a grama cresce,
A roseira apodrece, a goiabeira envelhece, e a mulher chora.
Lá fora a vida acontece, mas ela se perde,
Quando uma porta aberta não encontra.

*Só há vida quando há significado.

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