Simplicidade

Veio feito vidro quebrado
de uma janela qualquer onde
uma pedra a 1000 por hora
passava suave pelo que antes
segurava o frio do vento.

Veio dilacerando o metal da pele,
se instalando sob os orgãos mais vitais do organismo,
por debaixo dos esconderijos mais escondidos
desostilizando os anti-corpos mais viris,
curvando sobre meus ombros seus abraços imobilizadores
cravando tua mandíbula no meu lábio

Veio ja, com tua bandeira
proclamando vitória, hasteando sobre minha montanha
ignorando minhas tropas
que mal postadas em suas trincheiras cavadas como seus narizes
mau puderam ver o avanço do teu coração
passando pelas minhas costelas,
espremendo-se entre meus pulmões,
se equilibrando no nó da garganta,
até chegar onde repousava o meu.
batendo fraco, só por bater, só por bombear o sangue.
Só por isso e nada mais, por mais ninguém além de mim.
era só pelo sangue, não pelo amor, apenas sangue, e vida sem vida.

Veio assim seu amor
feito vidro quebrado
feito poeira alérgica
feito perfume que vc nem sabe de onde cheira.
veio feito flor que vc nem sabe como nasce
veio feito noite que escurece de dia
veio feito cochilo que se da no trânsito.
feito tosse, feito fumaça
feito doença.

Estou doente.

"Você ousa ficar fora ou ousa entrar?
Quanto pode perder?
Quanto pode ganhar?
E se entrar deve virar à direita ou à esquerda?
Ou seguir reto por três quarteirões? Ou nem tanto?
Vai ficar tão confuso que vai começar a correr.
E estradas curvas e longas em um passo super rápido.
E vagar por milhas em lugares estranhos e selvagens.
Em direção, temo eu, ao lugar mais inútil:
O lugar de esperar.
Para pessoas que só esperam.
Esperando um trem partir ou um ônibus chegar.
Um avião partir ou uma correpondência chegar.
A chuva parar ou o telefone tocar.
Ou a neve nevar.
Ou esperar por um sim ou por um não.
Ou um colar de pérolas ou um par de calças.
Ou uma peruca com cachos.
Ou outra chance."

(Fracture)

Esse horizonte aí meu amigo, tcs...
Ta meio que na diagonal.
Pendendo, sabe como, mais pra la do que pra ca.
Desorientando os malditos astros la de cima.
Aqueles safados que com total discrepancia,
Ficam se intrometendo em nossos signos.
Nosso sigilo ta na vitrine, amigo.
Ta nos caderninhos de horoscopo por aí.
ta ali, todos nossos segredos, no cabide.
artista meticuloso esse vento viu.
vem esculpindo a gente aos poucos.
do barro que a gente era,
vira forma perambulante.
vira ser arrogante.
vira cachaça braba.
Que a gente bebe pra esquecer a dor da gente.
E da gente o vento cansa.
sopra forte, seca o barro que vira pó.
E a gente vira parte da terra outra vez.
e tudo acaba.
Irmao, td acaba, é o fim.
Nao tem continuidade.
Triste assim.

E tem vez que o abraço não se parece com um abraço.
São só duas curvas formando um círculo imperfeito.
Um círculo obrigado a ser círculo, querendo ser metade, só meia-lua.
Ou então aquela linha reta que vai dos ombros aos bolsos.
Talvez seja nos bolsos e não nos ombros que ele goste de ficar.
Pois la deve ser quente, escuro e solitário.
E talvez seja isso mesmo que nos deixe felizes de fato.
Porque procuramos sempre a felicidade a ser dividida,
e ela é tão dividida que fica tão pouco da fatia sobre a mesa,
que tem vez q deixamos que ela fique la, parada, esperando as moscas.
Aquela única fatia de felicidade com glassê.
E tem sempre alguem pra meter o dedão na cobertura.
E a gente para pra pensar nos pensamentos que a gente tem.
E a gente acaba vendo q nada tem muito sentido.
É tudo um conjunto de sombra e luz, e ponto e virgula,
Tudo uma questão de interpretações erroneas.
Por que a gente fica escolhendo o que quer ouvir.
E a gente ouve so o que quer.
E quando a gente fala o que ouvido nenhum quer ouvir, ansiamos o perdao.
Mas quando são nossos ouvidos os afetados, queremos o pedido deste,
ou daquele modo, do modo que nos interessa.
Mas nosso perdão vendido a prazo é entregue aos poucos.
E nunca veremos os mesmos brilhos naqueles olhos como era no passado.
Sempre ficará uma marca.
Pois somos particulas que agem simultaneamente com impulsos nervosos.
Nervosos a ponto de rangermos os dentes.
Tudo isso por as coisas nao sairem como queremos que elas saiam.
Somos assim: Ficamos aí pelas casas, salões, academias, bares.
querendo ser a estrela mais brilhosa do céu.
Esquecendo que o que brilha no chão é grão de areia.
E assim como as estrelas, quando se tem de montão,
as parte separadas se tornam insignificantes.